A 6º etapa do circuito de vaquejada da Associação Sergipana de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ASQM) contou com o apoio do Governo de Sergipe. Realizado nos dias 16, 17 e 18 de maio, na Fazenda Haras Felipe, no município de Estância, o circuito reuniu cerca de 500 corredores de diferentes estados do Nordeste, entre iniciantes e profissionais, e aproximadamente 600 animais.
O incentivo da Secretaria de Estado do Esporte e Lazer (Seel) aos circuitos de vaquejada reflete a importância cultural, econômica e social, especialmente no interior do estado, ao esporte, que é considerado desde 2016, patrimônio cultural e imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“A paixão pela vaquejada é um fenômeno profundamente enraizado em Sergipe. Essa prática não é apenas um evento esportivo ou uma atividade econômica, ela é uma expressão vibrante da identidade cultural e social de muitas comunidades. Para muitos, a vaquejada é um símbolo da identidade nordestina. Participar e assistir a vaquejadas reforça o orgulho regional e o sentimento de pertencimento a uma cultura rica e distinta’’, afirma a secretária da Seel, Mariana Dantas.
Muitas famílias têm a vaquejada como uma tradição, passada de pais para filhos. Essa continuidade não só preserva a prática, mas também fortalece os vínculos familiares e a transmissão de valores culturais. As histórias de grandes vaqueiros e competições memoráveis são contadas e recontadas, criando uma rica tapeçaria de memórias e legados que alimentam a paixão pela vaquejada.
Beto Boi é uma dessas lendas das vaquejadas. Ele começou ainda pequeno, montando os cavalos da fazenda onde morava. Aos 18 anos, começou a correr e hoje é uma referência para os atletas mais jovens. O vaqueiro é conhecido não só por sua atuação nas pistas, mas também por sua generosidade. “Para mim, basta ter vontade. Eu ajudo muitos jovens a participarem das competições, principalmente com os deslocamentos e os animais, pois muitos não têm cavalos próprios. Minha alegria é ajudar as pessoas, dar oportunidade de serem melhores do que eu, não quero ser melhor que ninguém, meu prazer é ver a felicidade deles ganhando e crescendo, andando do meu lado’’, afirma.
A presença feminina ainda é tímida nos circuitos, atualmente oito mulheres disputaram a etapa, representando menos de 1% de participação, mas, aos poucos, a modalidade vem crescendo também entre o público feminino. “Hoje é uma categoria que está sendo mais valorizada e tem crescido muito, porém ainda existem muitos obstáculos, a maioria das competidoras não possui montaria própria, dependendo de outras pessoas para correr. Mas não dá para desistir, nossa presença abrilhanta o evento’’, contou a corredora Júlia Fonseca.
Habilidades e cuidados
A vaquejada é um esporte que envolve habilidades específicas, coragem e destreza tanto dos vaqueiros quanto dos cavalos. A emoção da competição, o desafio de derrubar o boi e a adrenalina do momento são elementos que capturam o coração dos participantes e espectadores. Vaqueiros bem-sucedidos tornam-se heróis locais, inspirando jovens e mantendo viva a chama da tradição. A admiração por esses vaqueiros contribui para a perpetuação da prática.
Roberto Matias é de Itabaiana e é um dos destaques do circuito ASQM. ‘’Quero chegar em primeiro lugar até o fim do ano e participar de campeonatos também em outros estados, representando Sergipe e trazendo muitos títulos’’, afirmou o atleta.
O bem-estar animal nas vaquejadas também requer atenção contínua e esforços coordenados entre legisladores, organizadores de eventos, vaqueiros e defensores dos direitos dos animais. Enquanto as regulamentações e normas técnicas representam um passo importante na direção certa, a efetiva implementação e fiscalização dessas medidas são essenciais para garantir que os animais sejam tratados com o respeito e cuidado que merecem. A educação e conscientização da comunidade também desempenham um papel vital na promoção de práticas mais humanitárias, permitindo que a vaquejada evolua de maneira a preservar tanto a tradição cultural quanto o bem-estar dos animais.
João Fernando é médico veterinário, juiz de bem-estar animal e o responsável técnico do evento. Segundo o veterinário, a população está cada vez mais consciente sobre os cuidados com os animais. “Nossa função dentro do evento é fazer cumprir todo o regulamento de bem-estar animal, para que nenhum competidor venha a machucar seu animal, não tenha nenhum dano físico aos bovinos e a todos os animais que estão participando do evento, desde a sua saída até a chegada no parque. Vale lembrar que isso pode desclassificar o participante se observado o descumprimento das regras’’, ressalta o juiz.
Esporte, economia e turismo
A vaquejada promove a geração de empregos, impulsiona o comércio local e o turismo, incentiva o desenvolvimento rural e pecuário, e atrai patrocínios e investimentos. Ao mesmo tempo, a necessidade de atender às demandas de bem-estar animal e sustentabilidade impulsiona inovações e melhorias na prática. A vaquejada, portanto, representa não apenas uma tradição cultural, mas também um motor econômico importante para muitas comunidades.
O presidente da ASQM, Maurício Roberto Mendonça, explica a complexidade da organização do campeonato. ‘’ A vaquejada cria empregos diretos para vaqueiros, organizadores de eventos, veterinários, juízes e tratadores de animais, além de atrair centenas de turistas envolvidos ou não no esporte. Esse parque, por exemplo, estava parado há quatro anos e, hoje, estamos reformando para abrigar outros eventos. Já são 17 anos de circuitos, tempo de criação da associação, e estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance para que todos os anos, os circuitos sejam ainda melhores, cada vez mais modernos e com cada vez mais participantes. Atualmente temos 800 associados e somos núcleo da Associação Brasileira de Criadores de Cavalo Quarto de Milha (ABQM), o que permite que esses cavalos pontuem também a nível nacional’’, explica Maurício.
A próxima etapa da ASQM acontecerá na cidade de Porto da Folha, de 11 a 14 de julho.