Nesta terça-feira, 24, é celebrado o ‘Dia da Sergipanidade’. A data evidencia o ser e fazer dos locais e daqueles que adotaram a terra de Tobias Barreto como morada. O Governo do Estado compreende a importância do sentimento de pertencimento e investe na valorização de artistas, expressões culturais de toda ordem, fomento ao turismo, economia, entre outros fatores que intensificam a percepção de sergipanidade.
Uma das ações deste ano que contribuíram para este fortalecimento da sergipanidade foi o retorno da realização de grandes eventos de festejos juninos, com a valorização de atrações e artistas sergipanos, com 60 dias de apresentação e mais de 300 artistas nos palcos de Aracaju (Arraiá do Povo, Centro de Criatividade, 18 do Forte, Gonzagão e Rua São João), Areia Branca, Barra dos Coqueiros, Capela, Itabaiana, Nossa Senhora do Socorro. O ‘país do forró’ arrastou mais de 650 mil pessoas entre junho e julho, que contemplaram espetáculos musicais, quadrilhas juninas, teatro musical, comidas típicas, artesanato e manifestações folclóricas.
Tal modelo de valorização resultou em uma expressiva movimentação cultural e econômica no estado, aumentando a presença de turistas em Sergipe, com registro de repercussão sentido no crescimento de 92% nas vendas no período, 64,5% de ocupação dos hoteis, alta de 39% na movimentação no aeroporto e rodoviárias, entre outros setores da cadeia produtiva. De acordo com o Observatório de Sergipe, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Casa Civil (SECC), foram movimentados mais de R$ 98 milhões durante os festejos.
Identidade
Mas o valor sergipano não se restringe somente às cifras conquistadas no São João. Mais que uma data, o sentimento de sergipanidade está presente nas características do ser sergipano, assim como também representada em manifestações folclóricas, culturais, em saberes e fazeres e os diversos elementos que compõem a identidade sergipana. Representações da cultura popular como o ‘Lambe-Sujo e Caboclinhos’, realizada nos municípios de Laranjeiras e Itaporanga d’Ajuda; o grupo Parafusos, de Lagarto; o Reisado; o Samba de Coco; o tradicional Encontro Cultural de Laranjeiras; o Festival Sergipano de Artes Cênicas e Diversidade Cultural; a mangaba; a renda irlandesa fazem parte do universo que compõe a sergipanidade.
Símbolo da cultura sergipana, a renda irlandesa ultrapassou a fronteira nacional e ganhou destaque pelo mundo. A artesã Maria José Souza explica que além de alavancar o nome de Sergipe internacionalmente, a renda carrega a importância turística e econômica. "A Renda Irlandesa é uma identificação própria de Divina Pastora e de Sergipe. Não é somente o reconhecimento como patrimônio imaterial; é uma vivência para o estado. Existe a importância econômica, turística, mas, acima de tudo, humana. Não é só ganhar dinheiro com a renda, é muito mais, é viver a renda, é uma paixão".
Apesar de não ter surgido em Sergipe, a renda irlandesa carrega nos pontos entrecruzados com lacê a Sergipanidade. O Modo de fazer Renda Irlandesa tem reconhecimento e referência da cidade de Divina Pastora, sendo incluída no Livro de Registro dos Saberes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no dia 28 de janeiro de 2009, além de deter o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.
Esse saber fazer da renda irlandesa, Patrimônio Histórico e Imaterial de Sergipe, atraiu a atenção, inclusive, do embaixador da Irlanda, Seán Hoy, que veio ao estado para conhecer a sua produção, pelas mãos de rendeiras do município de Divina Pastora que perpetuam a tradição do fazer pelas mãos habilidosas ensinadas geração após geração, para que possa ser reintroduzida no seu país de origem.
O que é sergipanidade
Para alguns, mais que apresentações e produções artísticas, a sergipanidade é um estado de espírito. O diretor e bonequeiro do teatro de bonecos ‘Mamulengo de Cheiroso’, José Augusto Barreto, pontua que sergipanidade é se reconhecer dentro do seu reduto. “Ser sergipano, primeiro, é reconhecer os 75 municípios do estado. Venho de uma família ribeirinha, de Propriá e Neópolis. Toda a minha carga cultural vem desses lugares. A cultura se aprende dentro de casa!’, avaliou.
O Mamulengo de Cheiroso tem 45 anos e é um dos representantes da cultura popular sergipana por meio de situações cotidianas retratadas em peças cômicas e esquetes. Este tipo de espetáculo é exibido desde o Brasil colônia e está presente em todo o Nordeste. São mais de dois mil exemplares de bonecos guardados por José Augusto, que pretende criar um memorial para as peças.
A opinião do artista é compactuada pelo servidor do Escritório Estadual do Ministério da Cultura (Minc), Dênio Azevedo. “Consideramos a sergipanidade como um sentimento de pertencimento. Só quem pode definir essa sergipanidade é você mesmo. É necessário escutar os residentes para entender esse vínculo. Sergipanidade é diferente de ser sergipano ou sergipana, que é ter nascido em Sergipe. Sergipanidade é essa construção simbólica, afetiva, que, mesmo pessoas que não nasceram aqui, têm o sentimento de pertencimento construído a partir de suas vivências ao longo da sua trajetória com este território”, explicou.
Sergipanos
Quanto a essas percepções individuais, a autônoma Miriam Batista, natural do Rio de Janeiro, vive desde a adolescência em Sergipe e classifica a determinação do sergipano como sua maior essência. “Identifico-me muito mais como nordestina. O sergipano é guerreiro e não pensa duas vezes para trazer o pão para casa. A maioria dos que conheço é humilde e muito focado nos seus propósitos”, considerou.
A figura de João Evangelista, mais conhecido por ‘Fumaça’, é carregada de representatividade. Sergipano de Aquibadã, médio sertão, ele já foi vereador do município e hoje é aposentado do serviço público, mas ainda atuante no cordel e na venda de livros usados no Mercado Albano Franco. “Ser sergipano é uma grande relíquia! Nossa cultura é exatamente tudo que fazemos. É o nosso dia a dia no trabalho, nossa arte, nossas tradições. Eu, por exemplo, sou autodidata, e isto, aliado à minha história, tem muito valor para a minha identificação”.
Tão tradicional quanto a literatura de cordel, os motoristas de táxis do centro de Aracaju têm muita história para contar sobre o desenvolvimento da identidade sergipana. “Há 40 anos dirijo um táxi e percebi que muitos turistas do Brasil e de fora têm admiração por Sergipe. Já transportei gente do Paraná, do Rio Grande do Sul e vários lugares, que vieram prestar concurso e disseram querer mudar para cá. Isso é um orgulho para mim, sabe? Sergipanidade é isso, é esse orgulho de ter nascido e me criado aqui!”, disse o taxista João Batista do Santos, morador do Bairro América, zona oeste de Aracaju.
O comerciante Diogo Lima, de Arauá, no sul sergipano, tem a mesma sensação. Há dois anos morando e trabalhando em Aracaju, ele nunca pensou em mudar para outro estado. “Gosto muito das praias, em especial da Ponta do Saco, em Estância. Nunca pensei em mudar de Sergipe”.
Centro de Criatividade
Com o planejamento estratégico do Governo do Estado de recolocação de Sergipe na rota nacional do turismo, a ‘Ópera do Milho’ foi reencenada durante a programação dos festejos juninos de 2023, na Concha Acústica, do Centro de Criatividade e, também, no Barracão Cultural do Arraiá do Povo, na Orla da Atalaia. O espetáculo foi montado pela primeira vez no ano de 1996 e retrata a cultura nordestina com suas tradições, folguedos e festejos juninos, reunindo religiosidade, simbolismo, danças folclóricas e arte cantada.
O Centro de Criatividade foi criado em 1985, no Bairro Getúlio Vargas, e, agora em 2023, restabeleceu seu protagonismo como uma das principais praças de espetáculos de Sergipe. “Aqui oferecemos oficinas de músicas, artes cênicas e visuais. Assumi a administração em junho, durante o Concurso de Quadrilhas Arranca Unha, e, apesar de pouco tempo, já estou imerso em sua densidade cultural. Este ano, o Centro de Criatividade foi bastante ativo em produções artísticas. O que posso desejar é que o Dia da Sergipanidade seja todos os dias!”, destacou o diretor do Centro de Criatividade, Eugênio Enéas.
Para celebrar a data, nesta terça-feira, 24, o Centro de Criatividade estará em festa. Às 8 horas tem Pilão de Pife e Mestre Saci. Já às 19h, Papudo Gil, com participação de Alberto Marcelino. Às 20h, apresenta-se o Afoxé de Preto e, às 21h, Zabumbadores de Vó Lourdes. A partir das 22h tem o Descidão.
Lei Paulo Gustavo
A programação elaborada pelo Governo do Estado para celebrar o Dia da Sergipanidade inclui ainda o anúncio da seleção das obras contempladas pela Lei Federal Paulo Gustavo, operacionalizada em Sergipe pela Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap). De acordo com a diretora-presidente, Antônia Amorosa, os editais se centraram no audiovisual. “As demandas que trabalhamos com muita dedicação e carinho serão apresentadas durante o anúncio dos mestres aprovados por edital. A seleção final passou pela escolha do nosso líder, juntamente com o assessoramento da Funcap, para cada vez mais valorizar a identidade cultural e a memória do nosso povo”, disse.
Dia da Sergipanidade
A data de 24 de outubro, conhecida como o Dia da Sergipanidade, foi instituída pela Lei nº 8.601/2019, que tem o objetivo de reafirmar a identidade cultural sergipana, destacando as características inerentes ao sergipano.
Mas, apesar das celebrações do 24 de outubro já existirem há algum tempo, anteriormente, a data se confundia com o 8 de julho, dia em que se comemora a emancipação política do Estado.
As duas datas entraram em conflito devido às conturbadas lutas políticas do território de Sergipe e Bahia. Foi em 8 de julho de 1820, que o Rei do Brasil e Portugal, Dom João VI, assinou a Carta Régia elevando Sergipe à categoria de Capitania Independente. Mas, até a década de 1990, os sergipanos também celebravam o 24 de outubro como a Emancipação Política de Sergipe. A mudança oficial para o dia 8 de julho foi feita por meio da Emenda Constitucional nº 20, de 31 de maio de 2000.
Com a alteração, o 8 de julho ficou conhecido como o Dia da Emancipação Política de Sergipe e o 24 de outubro, como o Dia da Sergipanidade.