Três artesãs sergipanas receberam, na quarta-feira, 3, o Título de Grau de Mérito Universitário Especial em Saberes e Fazeres pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). As homenagens fazem parte das celebrações dos 55 anos da instituição e promovem o reconhecimento do trabalho, da arte, da cultura popular e dos saberes ancestrais existentes em Sergipe. Com um trabalho ativo de valorização dessa categoria, oferta de serviços, apoio e orientações às atividades relacionadas - a exemplo de participação em editais e feiras; a Secretaria do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem), por intermédio da sua gerência de artesanato, marcou presença no evento.
“Essas titulações representam, para nós, maior empenho, compromisso e responsabilidade para trabalhar com o artesanato sergipano. O nosso objetivo, enquanto Seteem, é torná-lo, cada dia, mais produtivo, formal e empreendedor”, afirma a gerente de artesanato da Seteem, Daiane Santana, sobre a importância das titulações e compromisso da pasta no desenvolvimento de políticas públicas direcionadas ao engrandecimento e fortalecimento do artesanato em Sergipe.
Segundo dados do Observatório Itaú Cultural disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atividades como o artesanato, ligadas à cultura e às indústrias criativas do Brasil, impactaram significativamente o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) desses setores, em 2020. Como resultado, chegou a superar o PIB do setor automotivo.
Para Daiane, os dados são um indicativo do potencial do artesanato para a economia brasileira e, mais especificamente, sergipana. “A Seteem está formalizando esses artesãos para que eles possam ser empreendedores sustentáveis. É um compromisso do Governo e da própria secretaria do Trabalho”, diz.
Homenagens
Segundo o reitor da UFS, Valter Santana, a universidade possui um papel de formação e de produção de novos conhecimentos. “Ao reconhecer a sua cultura popular, reconhecer os saberes e fazeres, a universidade está introduzindo, dentro da rotina, pessoas que têm uma extrema importância para complementar a formação dos nossos alunos e produzir profissionais ainda mais qualificados. O saber científico é importante, mas reconhecer aquelas pessoas que são natas pela cultura e pelo saber próprio que tem a contribuir, é fundamental pra gente preservar o nosso passado e construir, da melhor forma, o nosso futuro”, ressalta.
Cerca de 28 homenageados receberam, ontem, o Título de Grau de Mérito Universitário Especial em Saberes e Fazeres. Entre eles, as artesãs Rosilene Santos, 52, da comunidade Malhadinha, em Poço Verde; Lígia Borges, 55, de Aracaju, e Josefa de Jesus, 97, do município de Arauá.
“Isso nos dá direito, de fato, no papel. Você não é só artesã por alguém dizer ‘você é artesã’ ou ‘você faz arte’. Hoje, nós temos um reconhecimento e um título dado através da Universidade Federal de Sergipe. É muito gratificante”, disse Rosilene, especialista na tecelagem há mais de 32 anos. Ela conta que, na época, estava desempregada e precisou buscar alternativas, foi quando iniciou no artesanato. Hoje, é a primeira artesã sergipana com título de mestre nessa tipologia.
“Esse momento, ele é dividido entre todos aqueles que fazem o ofício da arte, todos aqueles que têm prazer, o dom que Deus emprestou de estar fazendo a arte com carinho, transformando vidas. No momento que você pega algo nas suas mãos que você transforma, esse momento é único, é verdadeiro”, completa.
Também homenageada, Lígia Borges destaca a importância dos títulos para reconhecimento dos povos tradicionais de matrizes africanas. Especialista em arte negra, arte africana e na técnica de batik (tingimento de tecidos), ela também faz esculturas, telas, biojoias e semijoias. “ É o reconhecimento de uma cultura ancestral, de uma cultura de um povo e, reconhecer essa cultura desse povo, é dar visibilidade, é dar inclusão. Então, essa é uma ação afirmativa, o que traz muita importância pq nós somos mantenedores da ancestralidade, o que não é fácil em um mundo tão preconceituoso e tão racista. O que a universidade faz pra nós é muito importante, é inclusão, é lembrar que existe, para além desses muros, outros saberes, outros conhecimentos”, afirma a mestra.