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Quinta-Feira, 15 de Agosto de 2024 às 15:15:00
Feconart se configura como vitrine de ciências no alto sertão de Sergipe
Foram 114 projetos submetidos e 94 aprovados de 12 escolas públicas e particulares de Canindé de São Francisco, Monte Alegre de Sergipe e Poço Redondo

Da comunicação sensorial programada para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos projetos de desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas, dos experimentos com ervas do sertão para produção de fármacos no alívio da dor. A terceira edição da Feira de Conhecimento e Arte (Feconart), iniciada na última terça-feira, 13, tem atraído olhares da comunidade científica graças ao fomento de projetos e à qualidade dos resultados. Idealizado pela equipe do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, localizado em Canindé de São Francisco, o evento segue até a sexta-feira, 16.

Com a temática ‘Sertão da ciência’, a terceira edição da Feconart conta com a participação de 12 escolas estaduais, municipais e particulares de Canindé, Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe. A feira teve 114 projetos submetidos, e durante três dias foram expostos à comissão científica da Feconart 94 projetos aprovados nas áreas de ciências agrárias, saúde, biológica, humanas, engenharias, sociais e de palco.

Um dos projetos apresentados durante a terceira edição da Feconart foi o ‘Acendra’, que ficou em primeiro lugar na categoria ‘Engenharias’ da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) 2024, considerada a maior feira da categoria do país, realizada na Universidade de São Paulo (USP). 

A equipe desenvolvedora do ‘Acendra’ é do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto e composta pelos alunos Lucas Adib Nascimento e Arthur Jorge Bezerra Sandes, orientados pelas professoras Lark Soany Santos e Marisa Gomes Nobre. Os estudantes utilizaram um polímero da fibra do quiabo para filtrar água de barreiro e torná-la apta para consumo, e agora pensam em utilizar outros tipos de água residuais e a base do quiabo de maneira adjuvante como microbiológico, antifúngico e antioxidante.

Somente do Dom Juvêncio, foram expostos mais de 40 experimentos dos diversos segmentos das ciências. Um deles também chamou a atenção por ser voltado à educação inclusiva. Realizado pelos professores na Sala de Recursos da unidade escolar, o projeto ‘Fauna do Sertão’ fez os alunos descobrirem mais sobre os animais da região, por meio da técnica de origami. O aluno do 5º ano Ervencio Marinho dos Santos apresentou um tipo de gavião presente na região. “Já vi quase todos os animais que estudamos”, disse.

O projeto ‘TEAssauro’, realizado por alunos do ensino fundamental II de uma escola particular e orientado pelo professor de Biologia Alex Cordeiro, abordou a questão de habilidades motoras e sensoriais em crianças com TEA, por meio de jogos lúdicos.

Por meio do ‘PET Portion’, as estudantes Ana Cecilia, Laura Teles e Maria Alice desenvolveram um suplemento alimentar holístico com extrato de melissa oficillis para cães, chegando à criação de quatro produtos: petiscos, suplementos para saúde oral, um spray calmante e um suplemento para digestão.

Na área da saúde, os veteranos e premiados projetos ‘Farma Sertão’, sobre plantas medicinais do sertão sergipano e ‘TrioCrim: fitoterápicos à base do alecrim’ compartilharam saberes com os projetos ‘Anepriva’, que explora o potencial terapêutico da urtiga dioica para o desenvolvimento de um suplemento de pó como estratégia promissora no combate à anemia, ‘Cicatripodim’, cicatrizante à base de mastruz, e ‘Zingibel’, que cria um adesivo transdérmico de liberação lenta contendo extrato de gengibre e quiabo para alívio da dor.

A diretora do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, Rubia Virginia, lembra que todos os projetos de pesquisas trabalham problemáticas locais. “Os projetos focam no desenvolvimento da região. A palavra-chave é o incentivo. Começamos com pesquisas sem laboratórios, e hoje estamos na terceira edição da Feconart, com projetos campeões em feiras importantes do país e estudantes saindo daqui com várias credenciais para feiras nacionais e internacionais”, avaliou.

Desenvolvimento de habilidades

Além do fomento à iniciação científica, os alunos do ensino fundamental e médio desenvolvem habilidades coletivas com as apresentações nas bancadas de exposição, a interação social, o estímulo à oratória e a troca de saberes entre escolas.

Há ainda um projeto de comunicação sensorial, desenvolvido por estudantes do ensino fundamental Luiz Roberto, Rafael e Natanael, e orientado pelas professoras Izene Nascimento e Nubia Lima. Luiz Roberto explicou que foi desenvolvido um protótipo de par de luvas que, por meio de um aplicativo interligado a um celular com bluetooth, traduz os movimentos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) pela sonoridade, promovendo a comunicação entre surdos e ouvintes. “O surdo se comunica através da Libra, e a luva traduz os sinais na sonoridade”, disse.

De Poço Redondo, da Escola Estadual Teotônio Alves China, dois projetos chamaram a atenção por interligar experimentos com a alimentação escolar. ‘Temperinhos do Teo’ e ‘Natuart’ tiveram como base os temperos e ervas produzidos na escola com as finalidades de tornar a merenda escolar mais saborosa e criar tinturas à base de produtos naturais.

A merendeira Shyarlulys Moura da Silva disse que a ideia foi surgindo quando se percebeu que os alunos tinham hábitos alimentares voltados para os produtos industrializados. “Tínhamos que fazer chegar um sabor agradável ao paladar deles. Desenvolvemos a horta para produzir temperos que dessem sabor mais aceitável. Temos cebolinha, alecrim, coentro, semente de coentro, manjericão e, desidratados, formamos a junção de temperos”, explica.

A diretora da unidade escolar, Aline Roberto, destacou que foram também testados corantes para pintura a serem utilizados por pessoas alérgicas. “Queremos replicar todos os nossos experimentos para outras escolas”, disse.

Terceira edição

Realizada pela primeira vez em 2022, por iniciativa dos professores Lark Soany, Marisa Nobre, Alex e Elaine, a Feconart foi criada com os propósitos de desmistificar a ideia de ciência como algo distante e provar que é possível produzir conhecimento científico desde cedo, ainda na escola. Além disso, a feira é norteada pelo princípio de produzir projetos que busquem soluções reais e viáveis para problemáticas existentes na região.

A professora Lark Soany, que por duas edições esteve entre os dez professores incentivadores da ciência no país em seleção feita para a Febrace, destaca que a Feconart mostra a possibilidade de serem realizados eventos com qualidade na educação básica. “A gente entrega projetos pensados e protagonizados pelos alunos. São muitas ideias promissoras que, ao nosso ver, são um momento muito rico para a educação”, afirmou.

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Feconart se configura como vitrine de ciências no alto sertão de Sergipe
Foram 114 projetos submetidos e 94 aprovados de 12 escolas públicas e particulares de Canindé de São Francisco, Monte Alegre de Sergipe e Poço Redondo
Quinta-Feira, 15 de Agosto de 2024 às 15:15:00

Da comunicação sensorial programada para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) aos projetos de desenvolvimento de novas tecnologias agrícolas, dos experimentos com ervas do sertão para produção de fármacos no alívio da dor. A terceira edição da Feira de Conhecimento e Arte (Feconart), iniciada na última terça-feira, 13, tem atraído olhares da comunidade científica graças ao fomento de projetos e à qualidade dos resultados. Idealizado pela equipe do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, localizado em Canindé de São Francisco, o evento segue até a sexta-feira, 16.

Com a temática ‘Sertão da ciência’, a terceira edição da Feconart conta com a participação de 12 escolas estaduais, municipais e particulares de Canindé, Poço Redondo e Monte Alegre de Sergipe. A feira teve 114 projetos submetidos, e durante três dias foram expostos à comissão científica da Feconart 94 projetos aprovados nas áreas de ciências agrárias, saúde, biológica, humanas, engenharias, sociais e de palco.

Um dos projetos apresentados durante a terceira edição da Feconart foi o ‘Acendra’, que ficou em primeiro lugar na categoria ‘Engenharias’ da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) 2024, considerada a maior feira da categoria do país, realizada na Universidade de São Paulo (USP). 

A equipe desenvolvedora do ‘Acendra’ é do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto e composta pelos alunos Lucas Adib Nascimento e Arthur Jorge Bezerra Sandes, orientados pelas professoras Lark Soany Santos e Marisa Gomes Nobre. Os estudantes utilizaram um polímero da fibra do quiabo para filtrar água de barreiro e torná-la apta para consumo, e agora pensam em utilizar outros tipos de água residuais e a base do quiabo de maneira adjuvante como microbiológico, antifúngico e antioxidante.

Somente do Dom Juvêncio, foram expostos mais de 40 experimentos dos diversos segmentos das ciências. Um deles também chamou a atenção por ser voltado à educação inclusiva. Realizado pelos professores na Sala de Recursos da unidade escolar, o projeto ‘Fauna do Sertão’ fez os alunos descobrirem mais sobre os animais da região, por meio da técnica de origami. O aluno do 5º ano Ervencio Marinho dos Santos apresentou um tipo de gavião presente na região. “Já vi quase todos os animais que estudamos”, disse.

O projeto ‘TEAssauro’, realizado por alunos do ensino fundamental II de uma escola particular e orientado pelo professor de Biologia Alex Cordeiro, abordou a questão de habilidades motoras e sensoriais em crianças com TEA, por meio de jogos lúdicos.

Por meio do ‘PET Portion’, as estudantes Ana Cecilia, Laura Teles e Maria Alice desenvolveram um suplemento alimentar holístico com extrato de melissa oficillis para cães, chegando à criação de quatro produtos: petiscos, suplementos para saúde oral, um spray calmante e um suplemento para digestão.

Na área da saúde, os veteranos e premiados projetos ‘Farma Sertão’, sobre plantas medicinais do sertão sergipano e ‘TrioCrim: fitoterápicos à base do alecrim’ compartilharam saberes com os projetos ‘Anepriva’, que explora o potencial terapêutico da urtiga dioica para o desenvolvimento de um suplemento de pó como estratégia promissora no combate à anemia, ‘Cicatripodim’, cicatrizante à base de mastruz, e ‘Zingibel’, que cria um adesivo transdérmico de liberação lenta contendo extrato de gengibre e quiabo para alívio da dor.

A diretora do Centro de Excelência Dom Juvêncio de Britto, Rubia Virginia, lembra que todos os projetos de pesquisas trabalham problemáticas locais. “Os projetos focam no desenvolvimento da região. A palavra-chave é o incentivo. Começamos com pesquisas sem laboratórios, e hoje estamos na terceira edição da Feconart, com projetos campeões em feiras importantes do país e estudantes saindo daqui com várias credenciais para feiras nacionais e internacionais”, avaliou.

Desenvolvimento de habilidades

Além do fomento à iniciação científica, os alunos do ensino fundamental e médio desenvolvem habilidades coletivas com as apresentações nas bancadas de exposição, a interação social, o estímulo à oratória e a troca de saberes entre escolas.

Há ainda um projeto de comunicação sensorial, desenvolvido por estudantes do ensino fundamental Luiz Roberto, Rafael e Natanael, e orientado pelas professoras Izene Nascimento e Nubia Lima. Luiz Roberto explicou que foi desenvolvido um protótipo de par de luvas que, por meio de um aplicativo interligado a um celular com bluetooth, traduz os movimentos da Língua Brasileira de Sinais (Libras) pela sonoridade, promovendo a comunicação entre surdos e ouvintes. “O surdo se comunica através da Libra, e a luva traduz os sinais na sonoridade”, disse.

De Poço Redondo, da Escola Estadual Teotônio Alves China, dois projetos chamaram a atenção por interligar experimentos com a alimentação escolar. ‘Temperinhos do Teo’ e ‘Natuart’ tiveram como base os temperos e ervas produzidos na escola com as finalidades de tornar a merenda escolar mais saborosa e criar tinturas à base de produtos naturais.

A merendeira Shyarlulys Moura da Silva disse que a ideia foi surgindo quando se percebeu que os alunos tinham hábitos alimentares voltados para os produtos industrializados. “Tínhamos que fazer chegar um sabor agradável ao paladar deles. Desenvolvemos a horta para produzir temperos que dessem sabor mais aceitável. Temos cebolinha, alecrim, coentro, semente de coentro, manjericão e, desidratados, formamos a junção de temperos”, explica.

A diretora da unidade escolar, Aline Roberto, destacou que foram também testados corantes para pintura a serem utilizados por pessoas alérgicas. “Queremos replicar todos os nossos experimentos para outras escolas”, disse.

Terceira edição

Realizada pela primeira vez em 2022, por iniciativa dos professores Lark Soany, Marisa Nobre, Alex e Elaine, a Feconart foi criada com os propósitos de desmistificar a ideia de ciência como algo distante e provar que é possível produzir conhecimento científico desde cedo, ainda na escola. Além disso, a feira é norteada pelo princípio de produzir projetos que busquem soluções reais e viáveis para problemáticas existentes na região.

A professora Lark Soany, que por duas edições esteve entre os dez professores incentivadores da ciência no país em seleção feita para a Febrace, destaca que a Feconart mostra a possibilidade de serem realizados eventos com qualidade na educação básica. “A gente entrega projetos pensados e protagonizados pelos alunos. São muitas ideias promissoras que, ao nosso ver, são um momento muito rico para a educação”, afirmou.